Você sabia que dentro da sua barriga existem trilhões de microrganismos de pelo menos 100 espécies diferentes? E que, em conjunto, eles podem chegar a pesar dois quilos?! Calma, não precisa ficar preocupado, isso não é nenhum problema de contaminação. Na verdade, você deveria estar muito grato por eles existirem!
Estes microrganismos compõem a nossa microbiota intestinal, uma população responsável por manter o bom funcionamento do trato gastrointestinal e outras coisas mais. É difícil até imaginar um trilhão de qualquer coisa, que dirá entender como todas essas espécies de bactérias e fungos trabalham em conjunto.
Afinal, por que elas estão lá?
Bom, vamos começar pelo papel do próprio intestino. “Sua principal função é fazer a separação dos nutrientes, absorvendo o que é bom para a gente e ajudando a eliminar o que não é”, explica a nutricionista Marcia Daskal, responsável pelo Recomendo.“Ele é um dos órgãos de contato com o mundo externo. Temos, primeiro, a pele. Em seguida, o pulmão, e depois o intestino, que entra em contato com tudo que comemos e bebemos”, completa.
O órgão funciona, segundo Marcia, com uma inteligência que parece a de uma alfândega de aeroporto. “Você tem que ter controles e barreiras para evitar que microrganismos danosos nos afetem. As células intestinais têm que ficar grudadinhas para prevenir a invasão de certos microrganismos nocivos, mas também criarem um muro permeável o suficiente para colocar os nutrientes para dentro”, explica a nutricionista. É por isso que hoje acreditamos que a imunidade começa no intestino.
Certo, mas como falar de imunidade em um órgão cheio de microrganismos? “As bactérias só serão nocivas dependendo da quantidade e do grau de virulência. Há bactérias que, em uma quantidade controlada, nos ajudam com algumas funções. Quando falamos da microbiota, falamos de todo um universo que existe dentro do nosso intestino e que não é composto por células humanas. Em equilíbrio, este grupo ajuda o corpo a trabalhar direito”, explica Marcia.
O conjunto de bactérias, fungos e vírus presentes no órgão contribui com a digestão de nossa comida e facilita o processo de absorção de minerais e substâncias importantes para a saúde. Além disso, elas ajudam a sintetizar alguns nutrientes por meio da metabolização das fibras, como o caso das vitaminas do complexo B, fundamentais na defesa do corpo.
Bactérias da moda
Houve, nos últimos 10 anos, uma mudança de mentalidade sobre a microbiota intestinal. O interesse no assunto foi crescendo e várias pesquisas começaram a surgir, em diferentes contextos, para entender o seu papel.
“Já se sabia que existiam essas bactérias ali, mas não se imaginava o grau de importância delas. Um dos momentos mais importantes para se perceber isso foi quando um paciente com sepse, já morrendo, recebeu um transplante de fezes de um doador saudável. E essa pessoa sentenciada à morte, melhorou”, conta Marcia sobre o momento de virada no estuo da microbiota.
A partir daí, começou a percepção de que a composição das bactérias do intestino de cada um é diferente, como se fosse uma assinatura digital. Então, pesquisas foram desenvolvidas para compreender a influência dos hábitos alimentares na mudança da flora intestinal. E, indo mais além, muitas pesquisas procuram compreender o papel da própria microbiota na psicologia humana.
Um exemplo de como a inteligência dos microrganismos nos impacta é a partir de algumas compulsões: “conforme nos alimentamos de açúcar, nós alimentamos certos tipos de bactérias que, em vantagem, começam a se reproduzir cada vez mais. Por isso, às vezes temos uma compulsão por alguns alimentos, que são aqueles que as próprias bactérias vão “pedir” porque elas querem se alimentar e crescer”, explica a nutricionista.
Pode também acontecer de algumas bactérias soltarem toxinas que causam uma mudança repentina de humor, a chamada disforia. O estado de angústia, tristeza ou melancolia causado dura até você comer o alimento que as bactérias precisam.
Uma relação recíproca
Estes exemplos demonstram como não nos alimentamos sozinhos. Para conseguirmos manter uma flora intestinal equilibrada e saudável, é preciso pensar em toda a teia de relações que alimentamos dentro de nós mesmos. Mas como fazer isso?
Uma maneira interessante é apostar nos alimentos probióticos, que contêm bactérias consideradas benéficas e que podem ajudar as células do intestino a otimizar o processo de absorção de nutrientes. Isso requer uma certa regularidade no consumo, já que, ao mudarmos os hábitos alimentares, nossa flora muda também.
É importante conseguirmos favorecer a flora com a alimentação, apostando nos prebióticos, componentes alimentares que estimulam o desenvolvimento e atividade das bactérias. “Os prebióticos alimentam os microrganismos, sendo, em geral, carboidratos fermentados pela flora intestinal, que chamamos de fibras. Uma diversidade alimentar, rica em alimentos fontes de fibra, causa uma diversidade da microbiota”, explica Marcia.
As fibras estão presentes em cereais, como arroz, trigo integral, nos grãos, como milho, feijão, lentilha, e em frutas, verduras e sementes. Com um consumo diário desses tipos de alimentos, além de favorecer a microbiota, minimizamos os riscos de vários tipos de doenças. Ou seja, lembre-se pensar também na alimentação das suas queridas bactérias do intestino na própria refeição!